sábado, 9 de janeiro de 2010

Eufemismos

Eufemismo: “abrandamento de uma ideia desagradável, grosseira, triste, etc. pela substituição da palavra própria por outra mais agradável ou polida”. Essa é a definição de eufemismo que está no dicionário. Muita gente é contra eles. Para essas pessoas eles são uma forma de mentira ou verdade caricaturada. Para mim, o mundo seria um caos sem os eufemismos. Sem eles nós não estaríamos perto de uma terceira guerra mundial, mas talvez de uma décima (se é que teríamos sobrevivido às outras).

Como seria desagradável viver num mundo sem eufemismos. O que seria de mim sem os eufemismos? Quantas vezes eles não me livraram de incômodos e traumas que poderiam me marcar para a vida inteira? Por exemplo, quando eu jogava futebol, ou pelo menos tentava jogar, na escola, e o meu professor dizia depois de me colocar no banco de reservas:

- Você foi bom garoto, mas você sabe, eu tive que te tirar do jogo para melhorar o esquema tático do time. Nós precisamos pensar na equipe em primeiro lugar.

Eu sei que não era bem esse motivo. Na verdade o que ele gostaria de dizer era:

- Garoto, você sabe que sua praia não é futebol. Pelo amor de Deus! Você não passa de um perna de pau. Se eu fosse você iria praticar outro esporte, como xadrez. Talvez sua técnica nele seja melhor que no futebol.

É claro que ele nunca ia dizer isso para um aluno. Mas o engraçado é que o esporte que eu mais pratico hoje é o xadrez.

Outro que me marcou foi quando eu me declarei para o meu primeiro amor. Eu suava frio, tremia feito vara verde, ela na minha frente dizendo:

- Você é um cara legal, mas a gente nunca ia dar certo. Nós somos um pouco diferentes.
“cara legal”?! fala sério! Essa já escutei muitas vezes. Talvez o que ela queria dizer era:

- Olha pra você: um nerd, gordo e que usa óculos. Você acha que a gente tem alguma chance de ficar juntos?

Nossa!!! Já imaginou? Isso teria me traumatizado.

Eu nunca fui popular entre as mulheres e continuo não sendo. Mesmo assim eu sempre insistia em tentar conquistar algumas, mas não passava do “cara legal”.

Minha mãe usou muitos eufemismos pra proteger a minha honra e a minha dignidade quando eu era criança. Quando ela ia comprar alguma roupa para mim e dizia o meu número, o vendedor sempre olhava meio espantado para ela. Mas ela nunca deixava por menos e mandava:

- Sabe como é... ele é fortinho.

Boa mamãe! Isso que é defender a dignidade do seu Dadá. Eu chamo isso de eufemismo de peso. E se ela tivesse dito:

- Sabe como é...o menino é uma baleia! Não para de comer.

Ela teria acabado com meu amor de filho. Talvez eu tivesse virado um maníaco que anda por aí caçando a mamãe dos outros e chupando chupeta.

Mas eu também já usei muitos deles, embora eu não me lembre da maioria.

Por exemplo quando eu terminei o namoro com a minha primeira (e até agora única, mas isso não interessa!) namorada, eu disse para ela:

- Olha, minha cabeça não tá muito boa nesses últimos dias. Não é nada com você, mas eu preciso de um tempo.

“Não é nada com você” e “dar um tempo”, são desculpas meio velhas, mas foi a melhor maneira que eu encontrei de terminar o namoro sem fazer ela sofrer demais.

Como eu ainda sou muito novo, vou ouvir vários eufemismos no resto da minha vida. E posso até imaginar um dos próximos:

- O seu perfil não se encaixa nessa empresa.



Cícero Jailton de Morais Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário